sábado, 14 de janeiro de 2012

“Toda Educação humana deve preparar cada um a viver para os outros”(Auguste Comte)

 



Foto: Para Comte, a sociologia deveria ser uma análise científica aplicada às comunidades humanas
           Para Comte, a sociologia deveria ser uma análise científica aplicada às comunidades humanas

Auguste Comte

Pai do positivismo acreditava que era possível planejar o desenvolvimento da sociedade e do indivíduo com critérios das ciências exatas e biológicas


Auguste Comte nasceu em 1798 em Montpellier, na França. Seus pais eram católicos e monarquistas fervorosos. Comte rejeitou as convicções dos pais ainda jovem e foi aluno brilhante, dos estudos básicos aos superiores, na Escola Politécnica de Paris. Nesse período, seu melhor amigo foi Henri de Saint-Simon (1760-1825), expoente do socialismo utópico, com quem viria a romper mais tarde por questões ideológicas. Comte trabalhava intensamente na criação de uma "filosofia positiva" quando sofreu um colapso nervoso, em 1826. Recuperado, mergulhou na redação do Curso de Filosofia Positiva, que lhe tomou 12 anos. Em 1842, por divergências com os superiores, perdeu o emprego de pesquisador na Politécnica e começou a ser ajudado por admiradores, como o pensador escocês John Stuart Mill (1773-1826). No mesmo ano, Comte se separou de Caroline Massin, após 17 anos de casamento. Em 1845, apaixonou-se por Clotilde de Vaux, que morreria de tuberculose no ano seguinte. Clotilde seria idealizada por Comte como a expressão perfeita da humanidade. O filósofo, que dedicou os anos seguintes a escrever Sistema de Política Positiva, morreu de câncer em 1857, em Paris.

O nome do pensador francês Auguste Comte está indissociavelmente ligado ao positivismo, corrente filosófica que ele fundou com o objetivo de reorganizar o conhecimento humano e que teve grande influência no Brasil. Comte também é considerado o grande sistematizador da sociologia.

O filósofo viveu num período da história francesa em que se alternavam regimes despóticos e revoluções. A turbulência levou não só a um descontentamento geral com a política como a uma crise dos valores tradicionais. Comte procurou dar uma resposta a esse estado de ânimo pela combinação de elementos da obra de pensadores anteriores e contemporâneos, resultando num corpo teórico a que chamou de positivismo. “Ele reviu as ciências para definir o que, nelas, decorria da realidade dos fatos e permitia a formulação de leis naturais, que orientariam os homens a agir para modificar a natureza”, diz Arthur Virmond de Lacerda, professor da Faculdade Internacional de Curitiba.

Um dos fundamentos do positivismo é a idéia de que tudo o que se refere ao saber humano pode ser sistematizado segundo os princípios adotados como critério de verdade para as ciências exatas e biológicas. Isso se aplicaria também aos fenômenos sociais, que deveriam ser reduzidos a leis gerais como as da física. Para Comte, a análise científica aplicada aos agrupamentos humanos é o cerne da sociologia, cujo objetivo seria planejar a organização social e política.


Nova ordem espiritual

O funcionamento da sociedade, para Comte, obedeceria a diretrizes predeterminadas para promover o bem-estar do maior número possível de indivíduos. Além de uma reformulação geral das ciências e da organização sociopolítica, o filósofo projetou uma nova ordem espiritual, inspirada na hierarquia e na disciplina da Igreja Católica, que considerava muito eficientes. A nova doutrina, porém, se dissociava totalmente da teologia cristã, que Comte rejeitava por se basear no sobrenatural, e não no materialismo científico. No fim da vida, ele chegou a preconizar a construção de templos positivistas, onde a humanidade, e não a divindade, seria venerada. O filósofo via a humanidade como uma entidade una, que chamou de Grande Ser.

Comte formulou uma lei histórica de três estágios. Segundo ela, o pensamento humano partiu de um estágio teológico, quando recorria às idéias de deuses e espíritos para explicar os fenômenos naturais, e passou para um estágio metafísico, caracterizado por fundamentar o conhecimento em abstrações – como essências, causas finais ou concepções idealizadas da natureza. Para Comte, a humanidade só alcançaria plenitude intelectual ao chegar ao estágio positivo, com a admissão dos limites do entendimento. Para ele, a razão não é capaz de operar a não ser pela via da experiência concreta. Todo esforço da ciência e da filosofia deveria se restringir, portanto, a encontrar as leis que regem os fenômenos observáveis. 



Antes de Comte, a sociologia já havia dado os primeiros passos, mas foi ele quem a organizou como ciência, dividida em duas áreas: estática social e dinâmica social. A primeira estuda as forças que mantêm a sociedade unida, enquanto a segunda se volta para as mudanças e suas causas. A estática se fundamenta na ordem e a dinâmica no progresso – daí o lema “ordem e progresso”, que figura na bandeira brasileira por inspiração comtiana. Conhecidos a estrutura e os processos de transformação da sociedade, seria possível, para o pensador, reformar as instituições e aperfeiçoá-las. “As leis sociológicas permitem planejar o futuro porque indicam critérios de atuação política”, diz Virmond de Lacerda.

A concepção planejada das reformas sociais que o filósofo julgava necessárias não era compatível com a democracia, imprevisível por natureza, e por isso Comte a rejeitou. Ele acreditava que a ciência positiva seria o fundamento da fraternidade entre os homens, mas a responsabilidade por conduzir o aperfeiçoamento das instituições estaria restrita a uma elite de cientistas.

O filósofo via todas as sociedades constituídas por núcleos permanentes, como a família e a propriedade, que devem promover o progresso. O positivismo compara a sociedade a um organismo biológico, no qual nenhuma parte tem existência independente. Num estágio positivo, próximo da perfeição, não haveria lugar para o individualismo, apenas para o desenvolvimento da solidariedade e do altruísmo (termo cunhado por Comte) de cada um em favor da coletividade.

O pensamento de Comte foi alvo de desconfiança e até de escárnio – em especial a criação da religião da humanidade. Mas o positivismo teve grande influência em seu tempo e peso decisivo no surgimento de correntes de pensamento futuras, como o evolucionismo.


Disciplina, hierarquia e ciência na escola

Como Comte tinha a ordem na conta de valor supremo, para ele era fundamental que os membros de uma sociedade aprendessem desde pequenos a importância da obediência e da hierarquia. A imposição da disciplina era, para os positivistas, uma função primordial da escola.
Segundo Comte, a evolução do indivíduo segue um trajeto semelhante à evolução das sociedades. Assim, na infância passa-se por uma espécie de estágio teológico, quando a criança tende a atribuir a forças sobrenaturais o que acontece a seu redor. A maturidade do espírito seria encontrada na ciência. Por isso, na escola de inspiração positivista, os estudos científicos prevalecem sobre os literários. O filósofo acreditava ainda que todos os seres humanos guardam em si instintos tanto egoístas quanto altruístas. A educação deveria assumir a responsabilidade de desenvolver nos jovens o altruísmo em detrimento do egoísmo, mostrando a eles que o objetivo existencial mais nobre é dedicar a vida às outras pessoas. "A educação positivista visa a informar o aluno sobre a ordem – isto é, como o mundo funciona – e formar seu caráter, tornando-o mais bondoso", diz Virmond de Lacerda. O pensamento de Comte tinha forte aspecto empirista, por levar em conta apenas os fenômentos observáveis e considerar anticientíficos os estudos dos processos mentais do observador. Na educação, isso acarreta ênfase na aferição da eficiência dos métodos de ensino e do desempenho do aluno. No século 20, a psicologia comportamental aperfeiçoaria ao máximo esses procedimentos, com experimentos e testes aplicados em grande escala.


Para pensar

O modelo de escola rígida e autoritária que os positivistas defendiam está ultrapassado, mas vale a pena refletir sobre as idéias de Comte. Ele acreditava que a solidariedade era um impulso natural no ser humano e que a escola é um dos órgãos sociais responsáveis por promovê-la. Numa época individualista como a atual, você já pensou em conversar com seus alunos sobre a importância de sempre ter em mente que todos fazemos parte de uma sociedade?

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